Prisão de TH Joias e o alcance da infiltração
Uma operação integrada das polícias Federal (PF), Civil fluminense e do Ministério Público do Rio de Janeiro prendeu na semana passada o então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, que perdeu o mandato e foi expulso do MDB. TH Joias não apenas defendia os interesses da organização criminosa Comando Vermelho (CV) na Assembleia Legislativa (Alerj), como operava uma lavanderia de dinheiro destinada ao CV, convertendo em dólares o produto de atividades ilícitas.
Expansão do crime para a economia formal
A expansão do crime pela economia formal já ficara evidente no mês passado, com a operação envolvendo autoridades estaduais e federais contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior facção brasileira. Entre os alvos havia fintechs e fundos de investimento sediados no coração financeiro paulistano, a Avenida Faria Lima, usados pelo PCC para lavar dinheiro. O esquema se estendia também à produção de açúcar e álcool em São Paulo, com o controle de pelo menos quatro usinas. Confirmou-se que a organização criminosa é dona de mais de mil postos de gasolina em dez estados, tendo movimentado R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024. Controlava da produção ao abastecimento, com adulteração de combustíveis e, naturalmente, sonegação.
Detalhes do esquema no Rio e ligações com a PF
No Rio, TH tinha um esquema próprio de informantes em órgãos públicos. Foram interceptadas ligações que recebeu de alguém que se apresentava como “seu irmão”, pedindo ingresso para o desfile de escolas de samba. O “irmão”, segundo a PF, era Gustavo Stteel, delegado da própria PF, que cumpria missões importantes para TH, como obter informações sobre inquéritos de interesse do CV. Além de Stteel, TH contava com a colaboração de Alessandro Pitombeira Carracena, ex-subsecretário de Defesa do Consumidor. Advogado, Carracena chegou a ser presidente do Conselho Administrativo da Guarda Municipal do Rio.
A estrutura criminosa infiltrada servia para minar a atuação do poder público contra o CV. Foi graças a ela que os traficantes Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como Índio do Lixão, e Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, escaparam de operações policiais.
Implicações legais e futuras reformas
A prisão de TH mostra por que é fundamental reformar a estrutura de segurança pública, para estimular a troca de informações entre as polícias. Ela só foi possível graças à ação conjunta de policiais federais e estaduais, com base em investigação sólida. Também se trata de mais um argumento em favor da aprovação da PEC da Segurança, que facilita essa integração, e da nova Lei Antimáfia, defendida pelo promotor Lincoln Gakiya, do MP de São Paulo.
É mais fácil dizer em qual ramo da economia o PCC não está.
Profundo conhecedor do PCC, Gakiya fez o diagnóstico citado em recente entrevista ao GLOBO: a presença do crime organizado se estende a vários setores da economia e da política, exigindo respostas legais mais robustas para impedir infiltração em instituições. A entrevista serviu de base para entender a necessidade de fortalecer mecanismos de cooperação entre esferas de governo.
Perspectivas futuras na área de segurança
Como apontado pelos especialistas, a prisão de TH Joias reforça a importância de reformar estruturas de segurança pública e de sustentar políticas que promovam a cooperação entre PF, Polícias Estaduais e Ministério Público. A aprovação da PEC da Segurança e a Lei Antimáfia aparecem como pilares para ampliar a integração entre as forças de segurança, com potencial de reduzir espaços para a atuação de facções criminosas. O caso amplia o debate sobre como exteriorizar informações entre órgãos de segurança e a necessidade de vigilância constante sobre grupos que operam na fronteira entre o mundo legal e o crime organizado.