O Produto Interno Bruto (PIB) da Catalunha aumentou 3,6% em 2024, mas a população ainda sente os efeitos da inflação e de problemas estruturais que dificultam a distribuição da riqueza. O presidente da Generalitat, Salvador Illa, destacou, em um discurso recente, que os dados econômicos positivos não são suficientes para criar uma narrativa convincente de prosperidade. Embora a economia catalã tenha superado os 300 bilhões de euros e apresente uma taxa de desemprego de apenas 8%, a realidade do dia a dia diverge drasticamente deste cenário alentador.
Durante o debate de política geral no Parlament, Illa enfatizou questões críticas como a acessibilidade à habitação, salários estagnados e a dependência do setor turístico, que responde por até 14% do PIB catalão. Apesar da Catalunha contribuir com 18,8% do PIB nacional, com o valor per capita de 37.426 euros em 2024, ela classifica-se apenas em quarto lugar entre as comunidades autônomas da Espanha.
A diferença entre o crescimento do PIB e a percepção de riqueza é atribuído, segundo economistas, ao crescimento demográfico acelerado, impulsionado pela imigração, que tem diluído o rendimento per capita. Joan Ramon Rovira, diretor do gabinete de estudos da Cambra de Comerç de Barcelona, explica que, enquanto o PIB cresce, a produtividade ainda não acompanha essa evolução, mantendo os salários baixos. "O PIB cresce por conta do aumento da força de trabalho, não da eficiência econômica", afirma Rovira.
Os salários também têm se mostrado inadequados frente ao índice de preços ao consumidor (IPC), que aumentou 37% entre 2010 e 2025, enquanto o salário bruto médio no mesmo período subiu apenas 22%. Os dados revelam que a porcentagem de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social se mantém em torno de 24% da população, o que levanta preocupações sobre a verdadeira natureza da recuperação econômica.
O panorama é complicado pela estrutura dominada por setores de serviços, como a hosteleria, que são intensivos em trabalho, mas de baixa produtividade. Embora os investimentos em exportação tenham alcançado níveis recordes, as condições de vida da população não refletem esse sucesso. Rovira indica que, apesar dos desafios, há sinais de mudança com os salários iniciando um crescimento real frente à inflação, à medida que as empresas enfrentam dificuldade em encontrar mão de obra qualificada.
Todavia, para que os salários realmente aumentem, é necessário um incremento significativo na produtividade, um desafio que a Catalunha enfrenta devido à sua estrutura produtiva atual. Com isso, o futuro econômico da Catalunha se apresenta como um campo de tensão entre crescimento e desigualdade, onde o discurso otimista da prosperidade precisa ser acompanhado de ações concretas para garantir que este crescimento beneficie todos os cidadãos.