O governo de Javier Milei enfrenta um momento decisivo, marcado por **escândalos de corrupção** e uma crescente pressão política. Desde que assumiu, Milei vem conduzindo um corajoso programa de austeridade e equilíbrio fiscal na Argentina. Entretanto, a recente controvérsia envolvendo sua irmã e braço direito, Karina Milei, provocou um **baque na popularidade** do presidente, que agora se aproxima de uma prova de fogo com as eleições legislativas programadas para o próximo dia 26.
As incertezas quanto à viabilidade política do plano de estabilização de Milei aumentam na medida em que sua administração parece estar presa em um ciclo vicioso semelhante ao de governos anteriores. A confiança na Casa Rosada é abalada, a moeda local, o peso, continua a se desvalorizar, e a alta do dólar pressiona ainda mais as expectativas econômicas. Esta situação se agrava com a necessidade de suporte financeiro externo: em sete sessões, o Tesouro argentino vendeu cerca de **US$ 320 milhões** de suas parcas reservas externas para conter a desvalorização.
O Banco Central já havia injetado **US$ 1 bilhão** no mercado durante setembro, conforme o acordo com o **Fundo Monetário Internacional (FMI)**, que previa intervenções apenas quando o peso ultrapassasse o limite de 1.470 por dólar. Esse acordo, firmado em abril, também garantiu uma linha de financiamento de **US$ 20 bilhões** para repor as reservas argentinas, com um reforço adicional de **US$ 20 bilhões** do governo americano, aproveitando-se da relação próxima entre Milei e Donald Trump.
Contudo, a situação se torna crítica com o risco de uma crise de confiança que pode se transformar em uma profecia autorrealizável, comprometendo as conquistas econômicas já obtidas. Milei foi eleito em 2023 herdeiro de uma inflação de **211% ao ano** e uma recessão de mais de **1,5%**. Desde então, ele apresentou um conjunto de mais de **300 medidas**, que incluem a desregulamentação nos setores de trabalho, comércio e finanças, além de cortes significativos na máquina pública, que resultaram no desligamento de **5 mil servidores** de carreira logo após sua posse.
Embora a pobreza tenha aumentado inicialmente, os resultados das suas políticas começam a oferecer alguma esperança. A inflação, que era de **25%** no mês em que tomou posse, caiu para **8,8%** em abril de 2024 e atingiu **2,4%** em fevereiro deste ano. Em agosto, a inflação se estabeleceu em **1,9%**, com a taxa anualizada alcançando **33,6%**. Além disso, o índice de pobreza, que era de **57,4%** em janeiro de 2024, caiu para em torno de **39%** até o final do ano, refletindo um crescimento econômico que já apresentava um aumento de mais de **5%** no PIB no segundo trimestre.
Apesar dos avanços, muito ainda precisa ser feito na Argentina. Milei conquistou a eleição ao se apresentar como uma alternativa viável para um eleitorado exausto pela falta de perspectivas, buscando romper o ciclo de populismo que historicamente resulta em crises econômicas e políticas. Assim, seria lamentável que o país voltasse a repetir o padrão de governos incapazes de promover os ajustes fiscais necessários para garantir um crescimento sustentável.