Educação em Debate: Desafios na América Latina
Um novo estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) destaca os graves problemas enfrentados pela educação na América Latina, onde o gasto global é não apenas limitado, mas frequentemente mal direcionado. Estudantes do Colegio Temporal para la Paz, em Cúcuta (Colômbia), exemplificam a realidade ao se reunirem para concluir suas tarefas escolares em um ambiente que deveria ser mais apoiado e estruturado.
Um exemplo absurdo ilustra essa realidade: uma localidade exigiu 32 especificações técnicas para a compra de simples canetas escolares, enquanto milhões de dólares em computadores educacionais permanecem armazenados, sem que um plano de capacitação docente ou verificação de conectividade tenha sido estabelecido. Essa situação revela uma verdade desconfortável: América Latina está investindo o menor percentual de seu PIB em educação em duas décadas, e a recuperação pós-pandemia continua lenta.
Exemplos Positivos em Meio ao Caos
Um dos poucos casos bem-sucedidos é o da República Dominicana, que, ao garantir constitucionalmente 4% do PIB para a educação, observou um aumento de 14 pontos nos resultados dos testes PISA em matemática, além de melhorias no acesso e nas condições de ensino. Este é um sinal claro de que um compromisso consistente pode gerar resultados efetivos.
O Chile se destaca pelo sistema de Subvención Escolar Preferencial (SEP), que distribui recursos com precisão, aumentando em 70% o orçamento por aluno em situação de vulnerabilidade. Essa estratégia resultou na redução da desigualdade no aprendizado entre estudantes de diferentes classes sociais. Iniciativas baseadas em dados têm guiado o Congresso chileno a discutir projetos educacionais com uma visão fundamentada na evidência e nos resultados.
A Necessidade de Inovações e Reformas
Por outro lado, o caso da Costa Rica mostra os riscos da descentralização sem o desenvolvimento adequado de capacidades. As juntas escolares administram uma parcela significativa do orçamento, mas a falta de formação adequada de seus membros resulta em uma execução muito comprometida, o que explica o estancamento dos resultados nos testes internacionais ao longo dos anos.
Argentina, apesar de manter um investimento educacional significativo, enfrenta a rigidez de um sistema de coparticipação que limita inovações, refletindo-se em taxas de evasão escolar alarmantes. Essa situação evidencia a necessidade de alocar recursos de maneira a permitir flexibilidade e inovação.
Direcionamentos para o Futuro
Como enfatiza o BID, é fundamental que os ministérios de Educação e Finanças atuem em conjunto para que cada investimento se converta em aprendizagem real. A boa notícia é que as experiências já testadas em países da região, como as estratégias chilenas e sistemas de monitoramento brasileiros, podem servir de base para aprimoramentos em todo o continente.
À luz da atual crise educativa gerada pela pandemia, é essencial que se estabeleça um novo paradigma que não se contenta com a continuidade das práticas ineficazes do passado. Afinal, os custos associados a gastos inadequados se traduzem em gerações inteiras que não conseguem cumprir seu potencial devido falhas do sistema, uma realidade que a América Latina e o mundo não podem mais aceitar.
"O custo de gastar mal não se mede em canetas sobre-especificadas ou computadores abandonados. Se mede em gerações que, como canta a banda chilena Los Prisioneros, terminam 'pateando pedras' porque o sistema lhe falhou." - Gregory Elacqua, Economista Principal do BID