O governo da Holanda anunciou a devolução de uma escultura de 3.500 anos ao Egito, a qual foi roubada durante os tumultos da Primavera Árabe, que ocorreram entre 2011 e 2012. Essa peça notável, que representa a cabeça de um membro da corte da dinastia do faraó Tutmés III, foi reconhecida como patrimônio egípcio após reaparecer em 2022 em uma feira de arte em Maastricht.
A confirmação da devolução foi feita pelo primeiro-ministro interino Dick Schoof durante a inauguração do recém-inaugurado Grande Museu Egípcio, no Cairo, neste último fim de semana. Com essa atitude, encerram-se anos de investigações conduzidas pela Inspetoria de Informação e Patrimônio da Holanda, que chegou à conclusão de que a escultura foi retirada ilegalmente do Egito.
De acordo com as autoridades holandesas, o retorno do artefato, que está previsto para acontecer até o final do ano, não é apenas um gesto diplomático, mas também um compromisso com a restituição de bens culturais aos seus legítimos proprietários. O governo holandês enfatizou que "a escultura é profundamente significativa para a identidade do Egito".
Esta escultura, esculpida em pedra e datada do reinado de Tutmés III (1479 a 1425 a.C.), retrata um dignitário da corte em detalhes bem conservados, destacando as características típicas da arte do Império Novo. O governo da Holanda confirmou que a entrega oficial ao embaixador do Egito em Haia ocorrerá até o fim do ano.
O retorno da escultura reacende a discussão sobre o tráfico internacional de antiguidades, um setor multibilionário que ganhou força durante a instabilidade política no Oriente Médio. Durante a Primavera Árabe, entre 2011 e 2013, muitos museus e sítios arqueológicos no Egito, na Líbia e na Síria foram saqueados, resultando em milhares de artefatos que foram vendidos em galerias e leilões na Europa e nos Estados Unidos.
O governo holandês reafirmou seu compromisso, tanto nacional quanto internacional, para garantir que obras de valor histórico retornem aos seus legítimos donos, conforme destacou o Ministério da Cultura em uma nota. Nos últimos anos, a Holanda já devolveu peças valiosas a países como Nigéria, Indonésia e Sri Lanka, seguindo uma tendência global de reparação e devolução de patrimônios culturais às suas nações de origem.
A repatriação da escultura coincide com a abertura do Grande Museu Egípcio, o projeto cultural mais ambicioso do Egito, erguido próximo às pirâmides de Gizé. Este megacomplexo, que custou aproximadamente US$ 1 bilhão, abriga mais de 50 mil peças que narram cinco mil anos de civilização, do período dos primeiros faraós até a era romana.
Entre as principais atrações do novo museu está a tumba de Tutancâmon, que será exibida na totalidade pela primeira vez desde sua descoberta em 1922 pelo arqueólogo britânico Howard Carter. O acervo inclui 5 mil artefatos, como o sarcófago dourado, a famosa máscara mortuária e pertences pessoais do jovem faraó. O egiptólogo Tarek Tawfik, ex-diretor do museu,adescreveu que "o objetivo era recriar a experiência original de Carter, permitindo que os visitantes sintam o mesmo deslumbramento de cem anos atrás".
Mais do que um mero símbolo de orgulho nacional, o novo museu é uma peça-chave na estratégia do governo egípcio para revitalizar o turismo, um setor que representa cerca de 12% do PIB do país. Com a inauguração do museu, o governo espera dobrar o número de visitantes até 2032.