As grandes empresas de tecnologia estão passando por um momento de grande expansão no financiamento corporativo, que atingiu níveis recordes em 2025. Especialistas se mostram preocupados que esse apetite voraz por endividamento, impulsionado por ambições em inteligência artificial (IA), possa resultar em problemas para os mercados financeiros.
Nos últimos meses, investidores têm demonstrado um grande interesse nas vendas de títulos, com empresas como Alphabet, Amazon, Meta, Microsoft e Oracle liderando uma verdadeira corrida aos mercados de debêntures para captar recursos. De acordo com análises, essas empresas levantaram cerca de 100 bilhões de dólares em vendas de títulos até agora, um volume mais do que dobrado em relação ao ano anterior.
O aumento do financiamento por meio de títulos ocorre em um cenário de melhora nas condições de empréstimo, com taxas de juros em queda globalmente. Segundo a Bloomberg, as vendas de títulos globais totalizaram cerca de 6 trilhões de dólares neste ano, batendo recordes históricos e eclipsando os números do ano anterior.
Recentemente, a Amazon se destacou por planejar uma venda de títulos de 15 bilhões de dólares, ampliando sua oferta inicial de 12 bilhões após receber 80 bilhões de dólares em pedidos de investidores. Os recursos serão utilizados para diversas finalidades, incluindo investimento em capital e recompra de ações. Contudo, o movimento que mais chama atenção é a decisão da Oracle de vender 38 bilhões de dólares em títulos para financiar sua infraestrutura de IA.
Embora os analistas ainda enxerguem como saudável a utilização de fluxo de caixa livre para investimentos em IA, o uso crescente de dívidas para suportar essa expansão tem gerado preocupações. Como apontado por estrategistas do HSBC Global Research, a crescente emissão de dívidas entre essas grandes empresas pode ser um indicador de riscos que ainda não são amplamente reconhecidos.
Neil Shearing, economista-chefe do Capital Economics, enfatizou que o endividamento excessivo pode transformar bolhas setoriais em problemas sistêmicos, com consequências diretas para a economia real. Ele ressaltou que, enquanto o financiamento permanece relativamente baixo e os riscos são administráveis por enquanto, a tendência deve ser monitorada minuciosamente.
Recentemente, a Janus Henderson observou que o spread médio de crédito em títulos corporativos de grau de investimento nos EUA começou a se alargar, à medida que os investidores se tornam mais cautelosos em relação ao risco dos títulos emitidos por grandes empresas de tecnologia. Essa mudança no cenário de empréstimos pode resultar em uma demanda maior por compensações até que haja clareza sobre quem serão os "vencedores" dessa superciclo das tecnologias digitais.