Alcolumbre utiliza sabatinas do Senado como moeda de troca política
Davi Alcolumbre, senador do Amapá, vem utilizando as sabatinas do Senado não apenas para avaliar candidatos ao Supremo Tribunal Federal, mas também como uma estratégia de barganha política, independente dos currículos dos indicados. Essa abordagem já foi evidenciada em experiências anteriores, como no caso de André Mendonça e, mais recentemente, de Jorge Messias.
Em 2021, Alcolumbre atrasou por quatro meses a sabatina de Mendonça, buscando pressionar o então presidente Jair Bolsonaro a devolver o controle sobre a distribuição das emendas orçamentárias. Agora, em 2025, a pressa para a realização da sabatina de Messias parece ter o mesmo intuito, visando forçar o governo Lula a entrar em uma negociação.
A situação se complicou após o anúncio da aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso. Alcolumbre suspendeu a sabatina de Messias, exacerbando a tensão entre o Senado e o governo federal. Essa estratégia parece uma tentativa de utilizar a vaga para pressionar o Planalto a atender demandas políticas.
O presidente do Senado parece ter mudado sua tática, mas mantém a mesma intenção. Ao usar a atribuição da Casa de avaliar candidatos ao Supremo Tribunal Federal para fins de negociação política, ele se distancia do papel que deveria ocupar como legislador. A crise atual, que começou pela aposentadoria de Barroso, reuniu elementos que permitiram que Alcolumbre jogasse uma "pauta-bomba" sobre os cofres públicos, ampliando suas chances de obter ganhos políticos com o governo.
Quando Lula anunciou Jorge Messias como o indicado para a vaga de Barroso, Alcolumbre não hesitou em tirar da gaveta uma pauta que poderia ter impactos significativos nas finanças do governo. A expectativa era de que a sabatina servisse para emparedar o governo e retirar um indicado ao Supremo, algo que não ocorre desde 1894.
Com o governo percebendo o risco de uma derrota, o envio da indicação de Messias foi prontamente segurado, aumentando a irritação de Alcolumbre, que, em um tom agressivo, anunciou o cancelamento da sabatina, acusando o governo de “omissão grave”. Em um recente pronunciamento, o senador se mostrou ofendido pela especulação de que estivesse buscando mais cargos no Executivo, contradizendo seu discurso de não querer ajustes fisiológicos em sua atuação.
A indicação de Jorge Messias, que é visto por alguns como um aliado do partido do presidente, também traz à tona questões sobre sua viabilidade. Essa relação com o PT pode ser um fator que complica sua nomeação, assim como o alinhamento anterior de Mendonça com o governo de Bolsonaro não foi o que atrasou sua sabatina.
A situação atual evidencia a complexidade do jogo político no Brasil, onde os interesses muitas vezes se sobrepõem às necessidades reais dos cidadãos, e as sabatinas do Senado se transformam em uma ferramenta de negociação, ao invés de um processo de avaliação técnica e imparcial.