Efeito reverso da pressão dos EUA na Venezuela
Em Caracas, a sensação é de que, se ocorrer uma fissura, será entre militares leais a Nicolás Maduro e aqueles que decidam não se unir a uma possível operação de resistência a um ataque americano. A estratégia de pressão máxima do governo dos EUA sobre a Venezuela parece ter, paradoxalmente, fortalecido a coesão militar em torno de Maduro, conforme apontam analistas locais. Embora haja descontentamento entre os militares de baixa patente, a cúpula se mantém unida ao chavismo, enxergando na tensão com os EUA um motivo para se manterem coesos.
A expectativa de que generais de alta patente abandonassem Maduro devido à pressão da Casa Branca não se concretizou, e a lealdade ao presidente permanece firme. Segundo fontes em Caracas, a pressão psicológica da Casa Branca não parece ter gerado divisão entre as Forças Armadas, com informações indicando que o medo e a falta de alternativas têm mantido muitos dos militares fiéis ao regime.
A dinâmica militar e o impacto da pressão externa
Esta dinâmica militar instável reflete um cenário complexa entre os militares venezuelanos. As situações podem mudar rapidamente, mas, atualmente, a maioria parece acreditar que a pressão dos EUA não resultará em um movimento significativo em direção a uma ruptura interna. O temor de um ataque externo unifica as forças militares em torno de Maduro, reforçando, assim, sua resistência.
Os dados indicam que a cúpula chavista continua a resistir, tendo em mente que um apoio forte às forças armadas é crucial para a manutenção do poder. Com medo de possíveis represálias e perseguições, muitos militares permanecem leais ao regime, apesar da crescente insatisfação e das dificuldades enfrentadas, como a inflação e a escassez de alimentos, que pesam mais do que o temor de um ataque americano.
O papel da história nas percepções atuais
A história recente do país, especialmente o golpe de Estado de 2002 contra Hugo Chávez, ainda pesa nas decisões dos militares. Naquela época, um grupo de militares se uniu a setores opositores para exigir a renúncia de Chávez. No entanto, após 48 horas, Chávez foi reinstalado, apoiado por militares que se opuseram aos golpistas. Essa experiência ainda ressoa nos sentimentos dos atuais militares, que não estão dispostos a colaborar com intervenções estrangeiras.
Apesar de sua impopularidade e de uma percepção comum de que ele não venceu as eleições presidenciais de 2024, Maduro beneficiou-se de um pacto de lealdade consolidado com as Forças Armadas. Analistas sugerem que a estrutura de poder militar desenvolvida ao longo dos anos sob a liderança de Maduro dificulta grandemente a possibilidade de um golpe. Além disso, o apoio militar é crucial para a sobrevivência de qualquer regime, especialmente em um cenário em que a oposição carece de unidade e força.
Futuro do regime chavista e a tensão com os EUA
As análises das fontes consultadas em Caracas sugerem que a cúpula chavista não permitirá um golpe ou uma intervenção militar. Mesmo com a pressão contínua dos EUA, o governo de Maduro se mantém resiliente, preparado para resistir. O sentimento predominantemente anti-intervencionista entre os militares e entre a população reforça a ideia de que qualquer tentativa de intervenção externa será considerada um ataque à soberania nacional.
A situação permanece volátil, e embora a oposição interna e a pressão internacional continuem a desafiar o regime, Maduro parece ler a dinâmica política com cautela. Para muitos, o verdadeiro desafio é que a resistência dos militares e a coesão em torno do chavismo são fontes de força que podem dificultar qualquer esforço para derrubar seu governo.
Em um período de tensões crescentes entre os EUA e a Venezuela, o cenário continuará a evoluir, mas, por enquanto, a lealdade dos militares a Maduro se mostra como um obstáculo significativo a qualquer mudança de regime.