Crianças órfãs no Brasil: feminicídio deixa marcas profundas
Em um alarmante panorama, o Brasil registrou, em 2025, um aumento significativo no número de crianças órfãs devido ao feminicídio. Segundo o Laboratório de Estudos de Feminicídios (Lesfem), uma média de quatro crianças ficaram órfãs por dia no primeiro semestre deste ano. Esse número impressionante corresponde a 683 crianças que perderam suas mães em decorrência de violência de gênero.
As histórias de vidas afetadas por esta tragédia são frequentemente compartilhadas nas redes sociais, especialmente no TikTok, onde relatos como o de Fernanda Costa fazem ecoar o impacto emocional profundo da violência familiar. A dor de perder uma mãe em circunstâncias tão brutais não é apenas uma perda pessoal, mas uma catástrofe social que exige atenção urgente.
Mary Fernanda, com apenas 15 anos, viu sua vida mudar drasticamente quando soube que sua mãe, Viviane, uma técnica de enfermagem de 36 anos, foi assassinado a mando de um ex-companheiro. A criança e sua irmã, que na época tinha apenas dois anos, se tornaram órfãs e enfrentaram a dura realidade da vida sem sua mãe. A legislação brasileira, embora busque oferecer alguma forma de amparo, ainda enfrenta críticas por ser insuficiente frente à magnitude da questão.
Dados do Lesfem revelam que, apenas no primeiro semestre de 2025, o Brasil contabilizou 950 casos de feminicídio. Todos esses crimes são uma devastadora lembrança de que muitos destes atos de violência ocorrem na presença de crianças. O levantamento indica que 39% dos feminicídios tentados ou consumados ocorreram no lar da vítima, um indicativo preocupante da exposição das crianças a cenários de extrema violência.
Silvana Mariano, coordenadora do Lesfem, salienta que a perda de mãe causa não apenas dor, mas também gera um ciclo de violência e instabilidade emocional nas crianças afetadas. "Essa perda irreparável causa revolta e indignação, podendo potencializar ciclos de violência de outras formas. Muitas crianças acabam indo morar com outros familiares ou em abrigos, e o dano social altera suas trajetórias de vida", afirma Silvana.
O governo brasileiro, em resposta a essa crise, implementou a Lei nº 14.717, que estabelece uma pensão especial para órfãos de vítimas de feminicídio. A lei assegura um valor mensal, que ainda é considerado insuficiente por muitos especialistas e familiares das vítimas. Este novo suporte visou mitigar os efeitos da tragédia, mas sua efetividade ainda está sendo avaliada.
A realidade é que a condição de ser órfão devido ao feminicídio traz consigo um peso emocional que precisa ser tratado com cuidado e compreensão. A psicóloga Maria Amélia Solci destaca que essas crianças precisam de apoio psicológico contínuo. "Um trauma como esse muitas vezes leva a sentimentos de depressão e ansiedade, e é vital que a família como um todo receba acompanhamento para poder lidar com a situação", explica.
Histórias inspiradoras também emergem dessa tragédia. Fernanda usou sua experiência no TikTok para compartilhar sua história, destacando a necessidade urgente de apoio emocional e psicológico para crianças que passaram por experiências semelhantes. A jovem observa o sofrimento de sua irmã, que chora pela ausência da mãe, enquanto ela própria tenta ser a força da família.
Além de casos como o de Fernanda, há o relato de William Rodrigues Costa, que perdeu sua mãe, Francilene, quando tinha apenas seis anos. William, que cresceu sem a presença materna, tornou-se um jovem que lutou contra a depressão e a ansiedade decorrentes da perda. "Virei uma criança muito estressada e revoltada. Com o tempo, entrei em um ciclo de solidão e desespero", recorda William, que também compartilhou sua história nas redes sociais.
A situação dos órfãos do feminicídio no Brasil revela uma necessidade de ação coletiva e mudança estrutural. Com a implementação de programas que atendam não apenas as necessidades financeiras, mas também a saúde mental e social, é possível começar a reverter o impacto devastador que a violência de gênero tem causado a tantas famílias. A luta por justiça e a busca por um futuro melhor para essas crianças é uma responsabilidade compartilhada por toda a sociedade.