Com a imposição de tarifas americanas sobre países como Bangladesh e China, a Índia se destaca como uma alternativa atrativa para os varejistas dos Estados Unidos, especialmente para gigantes como o Walmart. Entre 2 de abril e 4 de maio de 2025, o Walmart importou quase o dobro de contêineres de roupas e artigos domésticos da Índia em comparação ao mesmo período do ano anterior, focando em produtos como camisas de algodão e saias plissadas.
Essa movimentação ocorre em um contexto de guerra tarifária global, onde os EUA aplicam sobretaxas de 10% sobre produtos indianos, visando proteger a indústria doméstica e diversificar fornecedores. O Walmart procura equilibrar sua cadeia global ao mesmo tempo em que promove pequenas empresas americanas, mas também valoriza seus fornecedores internacionais estratégicos.
Apesar do aumento do interesse dos compradores americanos, a indústria têxtil da Índia enfrenta limitações estruturais que impedem a completa exploração dessa vantagem tarifária. Enquanto o Bangladesh opera fábricas com capacidade média de 1.200 trabalhadores, a Índia tem unidades menores, entre 600 e 800 funcionários, o que limita a economia de escala e a produção.
A escassez de mão de obra qualificada também é um problema crônico. Muitos operários optam por deixar as fábricas maiores para trabalhar em unidades menores, que oferecem jornadas mais longas e menos regulamentação. Essa alta rotatividade dificulta o atendimento a grandes pedidos. Um exemplo disso é a fábrica Raft, que, com 250 funcionários, produz 12 milhões de peças por ano e precisa expandir rapidamente sua operação para atender uma demanda de 3 milhões de unidades.
Os custos de mão de obra na Índia são superiores aos de Bangladesh, com salários mensais em média de US$ 180, enquanto em Bangladesh esse valor é de US$ 139. Embora os salários ainda sejam inferiores aos da China, que alcançam US$ 514, essa diferença impacta as negociações de preço com os varejistas americanos, que buscam manter a competitividade.
A fragmentação do setor têxtil indiano, com milhares de pequenas unidades, também dificulta a padronização e a produção em larga escala, limitando ainda mais a capacidade do país de aproveitar as oportunidades criadas pelas tarifas americanas.
Para superar esses desafios, fabricantes indianos têm investido em regiões com maior disponibilidade de mão de obra migrante, buscando estabilizar sua força de trabalho. O crescente interesse de grandes compradores como o Walmart pode trazer melhorias na infraestrutura e nas condições de trabalho, além de estimular a consolidação do setor.
No entanto, a concorrência permanece acirrada, e a Índia precisa equilibrar custos, qualidade e capacidade para se posicionar como um fornecedor confiável e competitivo no mercado global. Esse cenário revela que, apesar das oportunidades abertas pelas tarifas americanas, os desafios internos relacionados à mão de obra e à capacidade produtiva ainda limitam o potencial de crescimento da Índia frente a competidores tradicionais como Bangladesh e China.