As autoridades dos Estados Unidos sinalizaram que os pangolins, mamíferos cobertos de escamas e os mais traficados do mundo, devem receber proteção sob a Lei de Espécies Ameaçadas. A decisão foi anunciada na segunda-feira e reflete uma crescente preocupação com a conservação dessas espécies nativas da África e da Ásia.
A proposta de proteção vem após anos de ação judicial de grupos conservacionistas, contrapondo-se a ações do governo anterior, que visavam enfraquecer legislações ambientais. As medidas da Lei de Espécies Ameaçadas proíbem a importação e exportação desses animais, além de atividades comerciais que possam ameaçar sua sobrevivência. Essa proteção ainda pode facilitar o acesso a financiamento para a conservação nos países de origem dos pangolins.
"O lucro do tráfico ilegal de pangolins muitas vezes financia atividades criminosas, incluindo o tráfico de drogas e armas", afirmou o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA. "A proposta de inclusão reafirma nosso compromisso em proteger essas magníficas espécies."
Conservacionistas ressaltam que a negação da proteção dos pangolins seria indefensável, uma vez que uma espécie já conta com proteções sob a legislação americana. A inclusão de outras sete espécies reconhecidas classificaria os pangolins como em perigo, um reconhecimento formal do risco de extinção em grande parte de sua área de ocorrência.
Os pangolins, quando ameaçados, adotam uma defesa curiosa: se enrolam em uma bola, o que, embora efetivo contra predadores, os torna alvos fáceis para caçadores ilegais. A população desses animais tem enfrentado sérios declínios devido à perda de habitat e ao tráfico. Suas escamas, utilizadas na medicina tradicional chinesa, e sua carne, considerada uma iguaria, são principais impulsionadores desse comércio ilegal, mesmo com evidências científicas atuais questionando a eficácia clínica de suas escamas.
A Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES) já proíbe o comércio internacional de pangolins, e a proposta dos EUA teria o efeito de endurecer ainda mais essas restrições, eliminando uma isenção que permitia a venda de partes mais antigas de pangolins no país. segundo Sarah Uhlemann, diretora do Centro para a Diversidade Biológica, isso enviaria uma mensagem significativa à China, onde ainda existe um mercado ativo para as escamas do pangolim.
Especialistas notam que, embora os casos de comércio ilegal tenham diminuído com as novas proteções desde 2017, a ameaça ainda persiste. Em 1970, uma espécie de pangolim africano já havia sido listada como ameaçada nos EUA, e desde 2014, todas as oito espécie reconhecidas foram classificadas como ameaçadas de extinção pela UICN. Duas são consideradas vulneráveis, três estão em perigo e três são criticamente em perigo.
Recentemente, os pangolins conquistaram mais visibilidade pública, o que pode ser um fator positivo. "Eles eram desconhecidos há 15 anos; agora as crianças têm bichinhos de pelúcia e eles aparecem em filmes da Disney", comentou Uhlemann. "Esse interesse pode realmente fazer a diferença."
A partir de terça-feira, haverá um período de 60 dias para comentários públicos sobre a proposta, e as autoridades irão analisar essas observações antes de tomarem uma decisão final.