O crescimento de plantas de biogás está causando tensão nas comunidades rurais catalãs. Moradores e autoridades locais manifestam sua oposição, alegando que tal expansão é uma desculpa que beneficia grandes granjas ao despejarem seus dejetos de maneira inadequada.
O biogás, uma fonte de energia renovável gerada pela decomposição de resíduos orgânicos como purinas e restos alimentares, é visto pela Generalitat como uma solução para autoabastecimento de energia. Através da Estrategia Catalana del Biogás 2024-2030, que visa triplicar a produção atual, a administração catalã planeja construir 12 novas plantas de biogás anualmente entre 2024 e 2030. Contudo, a resistência local se intensifica devido ao receio de que estas grandes instalações transformem áreas agrícolas em polos industriais.
No início de outubro, centenas de pessoas se reuniram em Lleida para protestar contra esses projetos, com a participação de 27 prefeitos que se opõem, em particular, a uma macroplanta proposta por um fundo de investimento em Sentiu de Sió. Os manifestantes formaram a plataforma Pobles Vius, que se opõe não só às plantas de biogás, mas também a parques fotovoltaicos e outras infraestruturas que consideram serem impostas pela agenda dos investidores.
Gerard Batalla, membro da plataforma e habitante de Sentiu de Sió, relatou que em 2023 foi oferecido um acordo para que ele deixasse suas terras, onde cultiva de maneira ecológica. Ele expressou sua preocupação sobre os planos para construir uma das maiores plantas de biogás da Europa, citando que o aumento do tráfego de caminhões transportando resíduos traria mais problemas do que soluções.
A Cataluña enfrenta um grande desafio na gestão de purinas, com mais de 12 milhões de toneladas produzidas anualmente, principalmente provenientes de granjas de suínos. Especialistas como Joserra Olarieta, engenheiro agrônomo, destacam que não há excesso de purinas nas áreas rurais e criticam que o plano de biogás é, na verdade, uma estratégia para favorecer o modelo das grandes granjas que não possuem solo suficiente para lidar com seus resíduos.
Laura Calvet-Mir, doutora em Ciências Ambientais, também rejeita a ideia de que o biogás é uma solução sustentável, argumentando que as fontes de energia realmente renováveis são as que não dependem de recursos falíveis, como os restos de granjas. A crítica unificada vai além do impacto ambiental, abordando a questão da falta de transparência nos processos de planejamento e a percepção de que as comunidades rurais estão sendo usadas como depósitos de resíduos.
Sergi Saladié, professor de Geografia, adverte que não há um planejamento real para as plantas de biogás e sugere que cada região deve gerenciar seus próprios resíduos. A falta de um regulador eficaz permite que empresas explorem esses projetos sem que as comunidades sejam devidamente consultadas.
A situação levou a várias prefeituras a suspender licença de construção para novas plantas, como fez a prefeitura de Bellcaire d’Urgell em abril. A luta contra essas iniciativas continua, ressaltando a necessidade de um debate mais amplo sobre a energia renovável e o verdadeiro benefício para o mundo rural.