Em meio a uma semana marcada por uma traumática operação policial que resultou em mais de 120 mortes nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, a arte se destaca como um poderoso meio de reflexão sobre a violência. Tradicionalmente utilizada para glorificar guerreiros e batalhas, a arte evoluiu e, como evidenciado na obra "Guernica", de Pablo Picasso, começou a denunciar os horrores da guerra e a enfocar a necessidade de paz.
Ao longo da história, obras de artistas como Francisco Goya trouxeram à tona a realidade cruel dos conflitos, permitindo uma visão mais crítica do impacto da violência. Goya, considerado um dos primeiros artistas modernos, é famoso por sua série de gravuras "Os desastres da guerra", retratando os horrores da invasão napoleônica e, em particular, pela pintura "Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808", que destaca o desespero enfrentado pelos executados, em contraste com a impessoalidade dos executores.
A transformação da arte em uma ferramenta de transformação social reflete a mudança na percepção da violência. Sérgio Martins, professor na PUC-Rio, aponta que a arte contemporânea interage com espectadores informados pelas mídias de massa, tornando-se um reflexo direto dos conflitos e violências presenciais na sociedade atual. Essa dinâmica é ainda mais evidente na análise de representações históricas que, outrora glorificadas, agora são revisitadas com um olhar crítico e humanista.
Obras como a Tapeçaria de Bayeux, que documenta a conquista da Inglaterra por Guilherme, e as alegorias de Peter Paul Rubens, como "As consequências da guerra", também estimulam uma reavaliação dos custos humanos e sociais da guerra. Embora a arte antes celebrasse os vencedores, hoje se dedica a apresentar a dor e a devastação trazidas pelos conflitos, criando um espaço para empatia e entendimento.
Da mesma forma, a obra de artistas como Zoran Music, que retratou a brutalidade do Holocausto, e Anselm Kiefer, que confrontou a memória histórica da Alemanha com obras que evocam responsabilidade, ampliam essa reflexão sobre a violência e suas repercussões. A tecnologia militar dos séculos XIX e XX e seus desastres foram amplamente abordados por movimentos artísticos expressivos, evidenciando o desespero diante do absurdo da guerra.
Conclusivamente, o impacto da violência, especialmente abordado na icônica obra "Guernica" de Picasso, transformou a arte em um símbolo de resistência à guerra e defensor do pacifismo. Através de uma linguagem visual inovadora, Picasso apresentou um desespero universal que ressoa não apenas com o contexto da Guerra Civil Espanhola, mas que continua a ecoar nas lutas contemporâneas contra a violência.